terça-feira, 18 de abril de 2017



















O rio me levava em suas águas escuras
sem que eu soubesse o seu percurso
sem que eu desejasse segui-lo
onde quer que ele fosse

Desconhecia os seus limites
admirava a sua força
adivinhava em sua profundidade
velhas histórias que jamais foram contadas
as quais eu ouviria por um tempo incerto
nelas descobriria a raiz da verdade
a origem remota de todas as coisas
o significado contido na filosofia mais obscura
a melodia perfeita que sustenta o universo

Soaria em silêncio a voz da divindade
presença magnífica que não se explica
substância cósmica de que somos feitos
o conceito absoluto
das formas infinitas
dos conteúdos secretos
que não expressa 
nossa linguagem precária
que não pressente
nossa percepção limitada
que não assimila 
nosso espírito restrito

Sob a sombra perene na margem do rio
sobre a umidade do solo macio
sinto a areia com a ponta dos dedos
aparentemente tudo persiste
lentamente tudo se modifica
um galho seco se parte
um canto de pássaro
na plenitude da tarde
o sol me aquece
meus olhos se fecham
adormeço



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